quarta-feira, 23 de julho de 2014

Comentário do filme "Viagem das ideias"



Comentário do filme Viagem das ideias
Janusa Adriana Maciel da Cruz1
O filme “Viagem das ideias” é baseado no livro “Viagem das idéias” de Renan Freitas Pinto, ao qual trata de aspectos importantes sobre a Amazônia, mostra que as ideias que temos ou as informações que temos da Amazônia nem sempre foram construídas por nós.  O filme faz crítica sobre essa visão de Amazônia vista como exótica e mística onde os estudos desse território vasto e rico em biodiversidade são voltados apenas para a natureza da fauna e da flora, sendo a natureza humana deixada de lado.
O filme inicia com imagens da floresta, mostrando a visão do povo europeu de que a Amazônia é uma região despovoada, em seguida mostra o povo e toda sua diversidade cultural e social em contra partida a essa visão. O filme conta com comentários de pesquisadores e escritores que ao longo do filme vão trançando a história desse território desde o seu descobrimento.
O primeiro a fazer comentário é o escritor Márcio Souza ao qual tem como cenário o belíssimo teatro de Manaus, para Souza a formação do conceito da Amazônia está vinculada a Europa, segundo ele a sociedade europeia ao se abrir as ideias do renascimento, se abre para possibilidade da existência de outros mundos e a construção através da visão europeia desses outros mundos.
Para Renan Freitas Pinto o autor do livro Viagem das Ideias a construção do imaginário da Amazônia também está vinculada ao olhar europeu, e a visão que temos da Amazônia se baseia nesse olhar, porque fomos ensinados e aprendemos a ver a Amazônia com a visão dos europeus. Segundo Renan a construção da Amazônia vista como exótica foi criada desde o início da descoberta e através de expedições nesse território.
Para o professor Dr. Ribamar B. Freire da UFRJ, o batismo de Amazônia se baseia no mito grego das amazonas, para explicar a realidade ao qual eles se encontravam nas expedições, pois para os exploradores era mais fácil associar a situação em que eles estavam a fatos conhecidos por eles  do que admitir a existência de outras sociedades, os indígenas. Para Ribamar os pré-conceitos estabelecidos pelos observadores durante a expedição pela região, fez com que a população local fosse desmerecida de todo o conhecimento que eles possuíam dessa região.
  A região da Amazônia segundo Ribamar Freire da mesma forma que a Espanha teve vários estados nacionais falando a mesma língua no momento colonial, Portugal também teve estados nacionais o Estado do Brasil e o Estado do Maranhão Grão-Pará que eram independentes um do outro, com legislação; dinâmica histórica e poder político próprio. A partir da proclamação da independência do Estado do Brasil de Portugal, o Estado do Grão Pará foi obrigado a aderir ao Estado brasileiro como uma província a mais do Estado do Brasil, apagando-se desta forma o passado do Grão-Pará.
Para Eduardo Neves do Museu de arqueologia da USP, todo brasileiro diz que a Amazônia é nossa, que a Amazônia é do Brasil é nosso patrimônio, mas os brasileiros não conhecem a Amazônia muito bem, para Ribamar esse pensamento é uma visão paulista Centrica e discorda plenamente dessa visão, para Ribamar temos que pensar nos  diferente campos do saber, pensar a Amazônia com a cabeça da gente, dialogando lá fora.
Marcio Souza toda presunção elaborada pelos europeus e depois pelos pensadores brasileiros sobre a Amazônia é a presença dos povos indígenas nessa região sendo esse povo detentor dos conhecimentos, dos enigmas sobre essa região, os pensadores europeus e brasileiros se perguntam como essas populações indígenas conseguiram viver, trabalhar e se relacionar com o meio ambiente e não destruí-lo por milhares de anos.
Eduardo Neves destaca a produção da terra preta pelos indígenas que até a atualidade não se tem o conhecimento de como se produzir tal terra, que tem propriedades químicas que ainda não são bem conhecidos, e não perdem sua fertilidade. Para ele quando os antropólogos começaram a estudar cientificamente os índios da Amazônia a partir do ciclo da borracha, pegaram a história dos povos indígenas em outro estagio, onde a configuração demográfica das populações indígenas apresentava-se reduzida, devido a um processo histórico dramático.
Renan Freitas aborda a visão do índio a partir dos seus próprios olhares, ou seja, a mudança de paradigma da imagem do índio, que sempre foi representado pelos antropólogos  como um ser bárbaro, nessa mudança de paradigma da imagem do índio surge os movimentos políticos indígenas. 
Eduardo Neves complementa a fala de Ribamar quando diz que os índios em geral são visto como seres sem história e não pertencentes à história sendo pertencente somente a natureza, para ele os indígenas modificam a natureza.
Em suma para os protagonistas desse filme pensa-se na Amazônia como uma região marcada pelo exotismo, isolada, inibida culturalmente, ou seja, o próprio povo da Amazônia não se vê como parte da Amazônia.
A importância da Amazônia no currículo escolar esta no fato dessa necessidade de conhecer o próprio espaço que ocupamos, pois o currículo é a identidade de um povo, e conhecer o espaço com toda sua biodiversidade e complexidade cultural  com identidade própria traz conhecimentos que não estão fora da realidade de quem vive aqui nessa região, um currículo mais regionalizado provoca nas populações locais a defesa dessa região com toda sua riqueza cultural e social, pois jamais pode-se dizer que a região amazônica possui uma única cultura, mas   sim múltiplas culturas com identidades próprias dentro de uma mesma região.
1 Aluna do Curso de Pedagogia da UFPA.





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